Fundador da WikiLeaks diz que julgamento de soldado norte-americano "nunca foi justo".
O fundador da WikiLeaks, Julian Assange, criticou
duramente a condenação do soldado Bradley Manning, considerando que o
veredicto emitido terça-feira pela justiça militar norte-americana abre
“um precedente perigoso e é um exemplo de extremismo de segurança
nacional”.
O cabo, considerado
responsável pela maior fuga de informação da história dos Estados
Unidos, foi condenado por 20 dos 22 crimes de que estava acusado,
incluindo cinco de espionagem, incorrendo numa pena que pode ir até aos 136 anos de prisão.
O tribunal marcial considerou, ainda assim, que não tinha a intenção de
trair a pátria ou ajudar um país ou organização estrangeira ao divulgar
informação classificada pelo Governo como secreta, absolvendo-o do
crime de "auxílio do inimigo", punível com prisão perpétua sem
possibilidade de condicional.
“Este nunca foi um julgamento
justo”, disse Assange à Reuters, lembrando que, após ter sido
identificado como o autor da fuga de informação, “o Governo americano
manteve Manning numa jaula, despido e isolado a fim de o fragilizar, num
acto formalmente condenado pelo relator especial das Nações Unidas
sobre tortura".
Sem nunca relacionar directamente o militar, agora
com 25 anos, com a fuga que permitiu à WikiLeaks divulgar milhares de
documentos confidenciais do Pentágono e do Departamento de Estado,
Assange diz que Manning é “a mais importante fonte jornalística que o
mundo já viu” e assegurou que a sua organização não descansará enquanto
“este julgamento intolerável não for anulado”.
O australiano
acusou ainda o Presidente norte-americano, Barack Obama, de ter traído
as expectativas de transparência que defendeu antes de chegar à Casa
Branca, dizendo que ordenou a abertura de mais inquéritos contra fugas
de informação do que todos os seus antecessores juntos.
A
condenação, recorda a Reuters, é um revés para a WikiLeaks, organização
que Assange diz ter como objectivo expor os abusos cometidos por
governos e entidades internacionais e que, para isso, depende de
informadores como Manning – pessoas que agora poderão ser
desincentivadas pela dureza do veredicto que vier a ser aplicado ao
soldado americano. É também uma recordação das acusações que pairam
sobre o próprio Assange, refugiado há um ano na embaixada do Equador em
Londres para evitar a extradição para a Suécia, num processo em que é
acusado de ofensas sexuais mas que o fundador da WikiLeaks diz poderá
ser usado para o extraditar para os EUA.