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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Batismo de Sangue

São Paulo, fim dos anos 60. O convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves) passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas). Eles logo passam a ser vigiados pela polícia e posteriormente são presos, passando por terríveis torturas.

 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

As circunstâncias políticas da morte de Yasser Arafat


A 11 novembro de 2004, o presidente Yasser Arafat falecia num hospital militar francês. Desencadeou-se então uma polémica sobre a origem do seu envenenamento. Só muito mais tarde, aquando da captura pelo Hamas de documentos nos arquivos pessoais do ministro Mohamed Dahlan, foi que as provas do complô foram reunidas. O assassinato foi orquestrado por Israel e pelos Estados-Unidos, mas realizado por Palestinianos. Thierry Meyssan reexamina as circunstâncias políticas que conduziram à planificação desta eliminação.

A chegada ao poder de George W. Bush, em janeiro de 2001, e a do general Ariel Sharon, em março de 2001, em plena Intifada, marcam uma mudança radical de política em relação aos Palestinianos. O período coincide com a entrega do relatório do senador George Mitchell sobre as responsabilidades partilhadas na continuação do conflito. O presidente Bush designa um diplomata experimentado, William Burns, para o representar no Próximo-Oriente. Com director da CIA, George Tenet, eles elaboram um protocolo em seis pontos para um cessar-fogo. Sharon e Bush examinam este plano, a 26 de junho de 2001 na Casa-Branca.
Tudo não passa de uma simples encenação. A reabertura das vias de circulação nos Territórios ocupados está subordinada à paragem imediata e completa das hostilidades. Por outras palavras, as medidas de repressão nos Territórios ocupados não serão levantadas sem que os Palestinianos renunciem, sem contrapartida, à resistência armada. Os Srs. Sharon e Bush acordam num discurso que estigmatiza o presidente Yasser Arafat, e o torna responsável do prosseguimento das hostilidades: ele é «o terrorista» por excelência e os dois países devem unir-se para fazer falhar o «terrorismo». Por conseguinte, o general Sharon decide aplicar agora a estratégia dos «assassinatos dirigidos» contra os dirigentes políticos palestinianos. O primeiro eliminado será Abou Ali Moustapha, um dos chefes da OLP.
Também logo que sobrevêm os atentados do 11de setembro de 2001, esta retórica funde-se sem problemas na da «guerra ao terrorismo». Nessa manhã aliás, os medias difundem uma reivindicação por um grupo palestiniano e Israel fecha todas as suas representações diplomáticas no mundo. Imagens de uma quinzena de Palestinianos gritando a sua alegria diante dos danos infligidos aos Estados-Unidos dão a volta ao mundo. Seja como for, a responsabilidade palestiniana será descartada no decurso do dia e os atentados serão atribuídos a um grupúsculo instalado no Afeganistão. Para fechar este capítulo, Yasser Arafat dirigir-se-á a um hospital para dar o seu sangue para as vítimas americanas. Mas a ocasião é esplêndida: os dirigentes israelitas multiplicam as declarações de compaixão com as vítimas estabelecendo nisto um paralelo entre o que sofrem os Americanos e os Israelitas. Ariel Sharon qualifica a Autoridade palestiniana de«organização apoiante do terrorismo», enquanto o porta- voz da Casa-Branca sublinha que Israel tem o direito de se defender. A amálgama é completa entre Resistência e terrorismo.
Telavive multiplica as iniciativas para isolar «o terrorista» Yasser Arafat. Entretanto, os ministros dos Negócios estrangeiros da União Europeia reafirmam que o presidente da Autoridade palestiniana é um parceiro para a paz, enquanto Washington mantêm os seus contactos com o velho líder.
Constatando a impossibilidade de uma solução militar, o general Sharon imagina um plano de recorte da Palestina que assegure a continuidade territorial de Israel e das suas colónias e que, pelo contrário, divida os Territórios palestinianos em duas zonas descontinuas. Discretamente, ele inicia grandes obras de construção, nomeadamente a construção de um muro que marcará a nova fronteira. O plano do conjunto não será revelado senão posteriormente. O general Sharon contenta-se numa primeira fase em anunciar a criação de «zonas tampões», talhadas nos Territórios ocupados.
Simultaneamente, uma associação de antigos oficiais realiza uma campanha de propaganda para uma separação unilateral entre os judeus e os árabes. Caminha-se para uma forma de apartheid onde Gaza e a Cisjordânia desempenharão o papel de Bantustões.
Para deslocar as linhas no terreno, o governo israelita lança a operação «Muro de protecção» (por vezes traduzida por operação «Muralha») cujo significado só será compreendido posteriormente. O Tsaal – (nome
arrasa uma parte de Jenine e sitia a Basílica da Natividade em Belém onde a Igreja Católica concedeu asilo a resistentes palestinianos. O general Sharon designa Yasser Arafat como o «inimigo de Israel», o que muitos interpretam como o sinal da sua eliminação iminente. Numa alocução televisiva solene, o Primeiro-ministro israelita declara: «O Estado de Israel está em guerra (...) Uma guerra sem tréguas contra o terrorismo (...) actividade coordenada e dirigida por Yasser Arafat». Durante cinco meses, as Forças israelitas sitiam o palácio presidencial em Ramalla e declaram a cidade «zona militar interdita». O velho líder é encurralado para umas poucas divisões, enquanto lhe são cortadas a água e a electricidade. Sharon dá-lhe a possibilidade de partir, «com um bilhete sem retorno». No seguimento do cerco, levantado sob a pressão internacional, Arafat permanecerá em prisão domiciliária nas ruínas do palácio presidencial.
O príncipe Abdullah da Arábia Saudita propõe um plano de paz razoável, levando em conta os interesses dos diferentes protagonistas. Ele apresenta-o na cimeira da Liga Árabe em Beirute, na ausência de Yasser Arafat prisioneiro em Ramalla, e obtêm o apoio dos Estados árabes. George Bush, — que jogava com um pau de dois bicos, à guerra com William Burns e Donald Rumsfeld, e à paz com Anthony Zini e Colin Powell — sabota o plano de paz Árabe. A 24 de Junho de 2002, ele pronuncia-se pela criação de um Estado palestiniano, mas põe como condição prévia a partida voluntária do presidente Arafat e a tomada de posse de uma nova direcção palestiniana que não esteja «comprometida com o terrorismo».
A lógica que vai conduzir ao assassinato do velho líder está já em marcha. Nada a poderá deter.
Washington solicita em vão aos seus parceiros do Quarteto (ONU, União Europeia, Rússia) que apoiem a partida de Arafat. No seguimento de um atentado que faz 7 mortos em Telavive, o general Sharon ordena a retoma do cerco ao palácio presidencial. O Tsaal destrói quase todo o complexo governamental e os dirigentes israelitas não escondem o objectivo de querer acabar com o seu «inimigo» Arafat. Toda a população Palestiniana se manifesta em apoio ao velho líder, enquanto o Conselho de segurança (da
vota a resolução 1435 intimando Israel a cessar imediatamente esta operação. O Tsaal levanta o cerco.
São convocadas eleições antecipadas em Israel. O seu resultado reforça o poder de Ariel Sharon. Ao formar o novo Gabinete, ele declara sem rodeios que vai «acabar a guerra contra o terrorismo, afastar a direcção terrorista e criar as condições para a a ascenção de uma nova direcção com a qual será possível chegar a uma paz verdadeira».
A Rússia e a França pressionam Arafat a “largar a barra” para evitar ao pior. O velho líder consente na criação de um posto de Primeiro-ministro, a confiá-lo uma personalidade que seja aceite por Telavive e Washington, e que possa negociar com eles para conseguir romper o isolamento. Ele nomeia Mahmoud Abbas. Os dois homens dificilmente se põem de acordo quanto à composição do governo. Abbas deseja confiar as relações com as organizações da Resistência militar ao general Mohammed Dahlan, o que Arafat recusa. No fim, eles acordam em nomear Dahlan para a chefia da policia.
Seja como for, a formação deste governo não muda nada. A decisão de matar Arafat está tomada. É mesmo o ponto fulcral do programa do novo
gabinete de Sharon. O embaixador William Burns e o Primeiro-ministro Ariel Sharon organizam um encontro secreto com o Primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas e o futuro ministro do Interior Mohammed Dahlan. Os conspiradores ultimam os detalhes do crime. Eles acordam em assassinar, à vez ,o velho líder e os chefes do Hamas, para que estes não possam retomar o estandarte.
O Quarteto acolhe a nomeação do novo governo palestino emitindo a propósito um «roteiro». O gabinete de Sharon aprova publicamente esta iniciativa, mas transmite em segredo Casa-Branca uma nota explicitando 14 reservas que esvaziam «o roteiro» do seu significado.
Durante seis meses, Mahmoud Abbas participa em numerosos encontros internacionais para colocar em marcha as recomendações do Quarteto e é recebido com toda a pompa na Casa-Branca. Entretanto, depressa fica claro que ele assume compromissos fora das suas competências. Teria, assim, prometido na cimeira de Akaba o fim da Resistência armada sem contrapartida.
Em todo o caso, Jacques Chirac é informado do complô. Ele alerta o seu homólogo russo, Vladimir Putin. A França e a Rússia propõem ao presidente Arafat a sua imediata evacuação de Ramalla e a concessão de asilo político num país à sua escolha. O velho guerreiro declina a oferta. Ele sabe que se deixar a Palestina, nunca mais voltará.
Para garantir a sua segurança, Arafat cria um posto de Conselheiro nacional de segurança que emperre as prerrogativas de Abbas e de Dahlan. Confia-o a Jibril Rajoub. A tensão atinge o paroxismo. Abbas demite-se, levando Dahlan com ele.
É nesta altura que Mohammed Dahlan dirige uma carta ao ministro israelita da Defesa Shaul Mofaz; um documento cujo duplicado foi encontrado nos arquivos privados de Dahlan após a sua fuga,(na
Ele escreveu: «Esteja seguro que os dias de Yasser Arafat estão contados. Mas deixe-nos fazê-lo à nossa maneira, e não à vossa (...) eu «cumprirei as promessas que fiz diante do presidente Bush».
Yasser Arafat nomeia Ahmed Qorei como Primeiro-ministro. O gabinete Sharon replica adoptando o princípio da expulsão do presidente da Autoridade palestiniana para fora da Palestina. Os Palestinianos manifestam-se de novo pelo seu líder. A Síria pede ao Conselho de Segurança da ONU a interdição da expulsão do presidente Arafat, mas os Estados-Unidos opõem o seu veto a este projeto de resolução. Como retaliação, aviões israelitas sobrevoam o palácio presidencial sírio e bombardeiam um antigo campo palestiniano perto de Damasco.
Em Março de 2004, o Tsaal assassina o xeque Ahmad Yassine, chefe espiritual do Hamas. Esta morte só se pode entender no contexto da intenção de decapitar o braço muçulmano da Resistência de modo a que ela não possa tomar o lugar assim que o braço laico seja, também ele, decapitado. Na ONU, Washington opõe o seu veto a uma resolução condenando este crime. Continuando nesta senda, o Tsaal assassina, no mês seguinte Abdel Aziz al-Rantissi, o chefe civil do Hamas.
Ariel Sharon vai a Washington e revela o novo plano de partilha da Palestina que ele orquestra desde há três anos. Ele insiste no facto que a continuidade do território de Israel exige o desmantelamento dos colonatos muito avançados e indefensáveis; e que as tropas israelitas se retirarão dos territórios destinados aos Palestinos. Ele admite o projeto de separação das populações em entidades etnicamente homogéneas e o traçado completo do muro de separação. O presidente Bush dá-lhe luz verde, por escrito, de Washington e acrescenta que, tendo em vista «a nova realidade no terreno», o princípio de retorno às fronteiras estabelecidas pela comunidade internacional-(fronteiras
é agora «irrealista». O facto consumado passa por cima do direito.
Como o Conselho de Segurança recusa condenar as anexações de territórios situados dentro do muro de separação, a Assembleia Geral vira-se para o Tribunal Internacional de Justiça de Haia para que ele se pronuncie quanto à matéria do Direito.
Em Ramalla, Yasser Arafat teme que o ministro do Interior do governo Qorei se tenha juntado ao complô. Decide-se a demiti-lo. Ahmed Qorei, sentindo-se desautorizado, apresenta a sua demissão. Por fim Arafat cede e renuncia. Qorei e a sua equipa permanecem, nela incluídos os traidores.
Erro fatal.
A 21 de Outubro de 2004, Yasser Arafat é acometido de vómitos. Os médicos creem primeiro numa simples gripe. O seu estado piora rapidamente e o seu sistema imunitário está gravemente enfraquecido. Sob proposta do seu homólogo francês, Jacques Chirac, ele aceita deixar a Palestina para se tratar. Ele sabe que a sua vida está em perigo e que mesmo se escapar desta,ele não voltará mais à sua terra. Ele é internado num hospital militar especializado. Os médicos não conseguem descobrir o veneno, além de que os seus assassinos lhe inocularam igualmente o retrovírus da sida tornando indecifráveis todos os exames. Ele entra em coma. A sua morte é anunciada a 11 de novembro de 2004 às 3h30 hora de Paris. O Eliseu vela para que a certidão de óbito mencione que o presidente da Autoridade palestiniana nasceu em Jerusalém.
O gabinete Sharon opõe-se à inumação em Jerusalém, as exéquias internacionais têm lugar no Cairo e a inumação em Ramalla. Os Colaboradores que conspiraram com o Ocupante para o matar vão apoderar-se do poder sem demora.

ETA, o País Basco e a autodeterminação



Nas últimas três décadas a imprensa internacional têm dado grande destaque às atividades do grupo basco ETA (Euzkadi Ta Askatasuna), que através de vários atentados choca-se com a política do Estado espanhol, exigindo a independência de todo o País Basco.
A região ocupada pelos bascos situa-se no norte da Espanha e noroeste da França. Presume-se que o povo basco tenha ocupado a Península Ibérica por volta do ano 2000 a.C. e tenha resistido as constantes invasões sofridas pela região ao longo dos séculos. Apesar da dominação romana, os bascos mantiveram sua língua, costumes e tradições, num processo de constante resistência. A língua basca não tem parentesco com nenhuma outra no mundo e embora seja a língua mais antiga falada hoje na Europa, o vasconço somente constitui-se como língua escrita no século XVI e reforçou o sentimento de união do povo.
Entre os séculos XV e XVI a região foi submetida à Espanha, finalizando o processo de formação do Estado Monárquico, que havia sido iniciado com o casamento dos reis católicos Fernando e Izabel.

A Formação da ETA

Euzkadi Ta Askatana (ETA) significa na língua basca Pátria Basca e Liberdade. Essa organização nasceu como um movimento socialista fundado em 1959 a partir da atividade de vários grupos culturais e políticos que atuavam na sociedade.
O desenvolvimento de uma política socialista e ao mesmo tempo nacionalista esteve vinculada a história mais recente do povo basco: durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39) a maioria da população basca apoiou os republicanos, aliados naquele momento aos socialistas e anarquistas, provocando violentas represálias por parte dos fascistas, sendo que o episódio mais conhecido foi o bombardeio da cidade basca de Guernica no dia 26 de abril de 1937, quando a aviação da Alemanha nazista lançou bombas incendiárias, matando mais de 1000 pessoas. A ditadura fascista do general Franco reprimiu com grande violência todos os movimentos nacionalistas. No País Basco, o vasconço foi proibido assim como qualquer manifestação política ou cultural dos bascos. O Estatuto de Autonomia que havia sido aprovado pelas Cortes em 1936 foi suprimido. A repressão sobre os bascos contribuiu decisivamente para o radicalismo no interior da ETA e na segunda metade dos anos 60 a organização passou a luta armada, tendo como alvo os membros do aparato de repressão. Sua ação mais espetacular foi o atentado que matou o Primeiro Ministro, Almirante Luiz Carrero Blanco, provável sucessor de Franco, em 1973. Durante a ditadura certos assassinatos políticos tiveram grande apoio popular.

A Redemocratização
Em 1975 terminou a ditadura franquista e iniciou-se o processo de redemocratização. No País Basco surgiram alguns partidos "nacionalistas", com projetos diferenciados, dividindo os bascos quanto a luta pela autonomia. Com a elaboração de nova constituição, o Estado Espanhol propôs um Estatuto de Autonomia, aprovado em 1978, incluído na nova constituição no ano seguinte, com o apoio de parte da população e de alguns partidos. A ETA rejeitou o Estatuto, manteve a atividade militar e ao mesmo tempo passou a atuar politicamente com a fundação do Herri Batasuna ( Unidade Popular), agrupamento político legalizado, cujos membros defendem as propostas da ETA.

Com o retorno à democracia a ETA tendeu a perder apoio popular, pois governantes, elite e imprensa passaram a considerar o "debate político" como única forma de atuação, condenando com maior veemência as ações do grupo armado, que até então eram vistas com simpatia por grande parte da sociedade, pois chocaram-se com as autoridades da ditadura. No entanto a grande campanha sobre a opinião pública do país e principalmente internacional, omite elementos importantes do conflito no período democrático:
1) Durante o governo de Felipe Gonzales ( Partido Socialista Operário Espanhol) formaram-se as GAL -- Grupos Antiterroristas de Libertação -- organização ilegal, responsável pela violenta repressão aos nacionalistas bascos, promovendo prisões arbitrárias, torturas e assassinatos. Apesar da condenação destas atividades por parte do governo, as GAL receberam apoio e financiamento de diversos setores da sociedade e mantiveram-se constantemente em ação.
2) A ETA e o Herri Batasuna formularam propostas políticas para acabar com os atentados e com a "Guerra suja" promovida pelos GAL. A Alternativa KAS era formada por cinco pontos principais: a formação de um Estado Basco, o reconhecimento internacional desse Estado, retirada das forças policiais espanholas, anistia aos presos políticos e à inclusão de Navarra ao País Basco
3) A partir de 1995, o governo espanhol comandado por Felipe Gonzales, e a Esquerda Unida (IU) comandada pelo Partido Comunista recusaram-se a discutir nova proposta de paz da ETA, que tinha o objetivo de acabar com o conflito no País Basco. Podemos considerar a Alternativa Democrática, como uma adaptação da proposta anterior, tendo agora um conteúdo mais democrático, que enfatizava o papel da sociedade basca na organização de um País Basco independente. Desta forma a ETA e o Herri Batasuna "abandonam temporariamente" a defesa de seu "projeto socialista" e passam a defender que todos os bascos sejam os responsáveis pelos destinos do país. A Alternativa Democrática propunha: 1. Reconhecimento do direito á autodeterminação e à unidade territorial da País Basco e, em consequência, o compromisso de se respeitar a decisão do povo basco sobre o futuro do pais; 2. Mediante ampla discussão e participação, a sociedade basca decidirá qual o modelo de Estada que será criado. Este debate e esta decisão diz respeito única e exclusivamente ao povo basco; 3.Para que este processo resulte realmente democrático, se concederá uma anistia que permita a participação de todos prisioneiro políticos, refugiados e deportados; 4. ETA se compromete a suspender sua atividade armada assim que se consiga um acordo político sobre o conteúdo da proposta.



A Autodeterminação dos Povos

Em 1998 a ETA suspendeu a realização de atentados em busca de uma solução negociada. Porém o atual governo da Espanha, considerado como de centro direita, utiliza-se de argumento semelhante aos governos anteriores para aceitar as negociações: a desmobilização da ETA. A exigência de desarmamento da ETA serve, na verdade, como pretexto para a recusa em promover a discussão, pretendendo manter a idéia junto a opinião pública, de que as negociações não ocorrem por culpa da organização guerrilheira. Dessa maneira a discussão sobre o "direito de autodeterminação dos povos" é escamoteada. Esse direito consta do discurso de liberais e de vários grupos que se dizem de esquerda, porém, quando uma possibilidade real de coloca-lo em prática surge -- A Alternativa Democrática e o fim dos atentados -- os governantes aumentam suas exigências, como forma de não levar a discussão adiante ou ainda de promover a desorganização dos nacionalistas, impedindo-os de desenvolver seu projeto de independência.
Os nacionalistas revolucionários consideram que a independência do País Basco não é apenas uma reivindicação histórica, mas uma via necessária para garantir o desenvolvimento econômico, cultural e social do povo basco



De acordo com um vídeo lançado pela estação televisiva britânica BBC em 5 de setembro de 2010, a ETA não "levará a cabo mais acções militares".2 Em 10 de janeiro de 2011 um anúncio da ETA informou que vai adotar um cessar-fogo “permanente, geral e verificável”.3
Em 20 de outubro de 2011 a organização emitiu um comunicado anunciando o final definitivo de toda e qualquer atividade4 5 após 51 anos, durante os quais provocou mais de 800 mortos. O fim da ETA acontece no momento em que a organização está mais débil, devido ao crescente isolamento social no País Basco, pela demarcação progressiva do seu braço político, e à pressão policial que, em Espanha e França, destruiu a capacidade operacional dos seus comandos.



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O dia em que morreu Che Guevara

Capturado em vida, EUA ordenaram execução sumária de Che Guevara. Cadáver do líder latino-americano desapareceu durante 30 anos. Até morto, ele representava um perigo para as classes dominantes

Depois de ter sido, ao lado de Fidel, Camilo e Raul, um dos principais comandantes da Revolução Cubana, de ter assumido o Ministério da Indústria e o Banco Central de Cuba, de ter organizado a guerrilha na África, determinado a impulsionar a Revolução na América Latina e construir um mundo novo, no dia 5 de março de 1967, Che Guevara e o primeiro grupo de 44 guerrilheiros chegaram à Bolívia, numa fazenda cedida por Roberto Peredo, integrante do Partido Comunista Boliviano (apoio pessoal, pois o Partido nunca se comprometeu com a guerrilha).
Falhas cometidas por alguns guerrilheiros e a delação feita por dois desertores deram ao Exército a certeza de que havia um grupo armado na região e sua localização. Preparam o primeiro ataque, que acontece no dia 23 de março, mas a guerrilha já os esperava e, numa emboscada, derrota o Exército sem sofrer baixas. A segunda batalha também é positiva para os rebeldes, tendo ocorrido a 10 de abril.
A seguir, há uma dispersão de forças e tudo transcorre sem maiores novidades até 31 de agosto, quando a traição de Honorato Rojas, camponês que apoiava a guerrilha, proporcionou a emboscada de Vale Del Ieso, quando foi dizimada toda a retaguarda. A essa altura, o exército aprendera com os erros cometidos nas investidas anteriores e com o treinamento de três meses efetuado por enviados do Governo dos EUA: um coronel, quatro capitães e 12 sargentos.
O cerco vai se fechando e, no dia 8 de outubro, Pedro Pena, um camponês interessado em receber a recompensa de US$ 4.200, delata a presença de 17 guerrilheiros (é a vanguarda, comandada por Che). Eles são cercados por 70 homens e há 1.500 nos arredores bem armados e alimentados, enquanto os guerrilheiros estão famintos, maltrapilhos, com fome e sede.


O combate encarniçado começa em torno do meio dia. Às 15h, Che é atingido na perna, sua arma inutilizada; Willy (Simon Cuba) tira-o da linha de fogo. Os dois são detidos: Che, com ferimento leve; Simon Cuba, ileso. Levados para o povoado de La Higuera, são custodiados numa escola, cada um numa sala. No dia seguinte, o presidente da Bolívia, René Barrientos, após consultar seus patrões, o Governo dos Estados Unidos, autoriza a execução sumária de ambos e de qualquer prisioneiro da guerrilha, temendo uma mobilização internacional por sua liberdade e que o julgamento fosse transformado em tribuna, como Fidel o fizera em Cuba. Assim, no dia 9 de outubro, às 12h50, Che e Simon são executados à queima roupa.

No dia 11, desapareceu o cadáver de Che. Até morto, ele representava um perigo para as classes dominantes. Só foi encontrado em 1997, após 19 meses de buscas iniciadas desde que o general Mário Vargas Salinas, um dos que comandaram as tropas contra a guerrilha, revelou que o tinham enterrado em Vallegrande (área da luta). Os restos mortais foram trasladados para Cuba, onde, recebido com honras de herói nacional repousa em Santa Clara.

Brilhando pelo mundo inteiro

Mas, apesar de sua morte, a cada ano que passa, a cada nova geração, aumenta o número dos admiradores e seguidores de Che Guevara em todo o mundo. E não são apenas os comunistas e revolucionários. Os moradores de La Higuera o veneram como San Ernesto. Milhares de jovens nem entendem o seu pensamento e sua luta, mas têm-no como referência por sua dignidade e sua coerência, tão raros em nossos dias em que a degradação moral do capitalismo se espalha por todas as classes sociais. Por que isso? É Jean Paul Sartre, filósofo francês, quem responde: “Foi o ser humano mais completo de nossa era. “O braseiro boliviano de Ñancahuazu foi provisoriamente extinto, mas a sua luz continua a brilhar, a incendiar por toda a parte novos braseiros, a fazer brotar novas centelhas, a guiar os povos como uma tocha na noite. Nada poderá apagar essa luz”.
Ao discursar na Praça da Revolução, em Havana, no dia 18 de outubro de 1967, Fidel Castro assim definiu Ernesto Che Guevara: “Não é fácil conjugar numa pessoa todas as virtudes que se conjugavam nele. Não é fácil que uma pessoa de maneira espontânea seja capaz de desenvolver uma personalidade como a sua. Diria que é desse tipo de homens que é difícil igualar e praticamente impossível superar. Porém diremos também que homens como ele são capazes, com seu exemplo, de ajudar que surjam homens como ele. (…) Muitas coisas ele pensou, desenvolveu e escreveu. E há algo que deve se dizer num dia como hoje: é que os escritos de Che, o pensamento político e revolucionário de Che têm um valor permanente no processo revolucionário cubano e no processo revolucionário da América Latina”.
Hoje, o nome de Che, suas ideias e seu exemplo, tornaram-se verdadeiras bandeiras de luta contra as injustiças, contra a opressão do imperialismo capitalista e pelo socialismo e, a cada dia, o pensamento de Che torna-se mais vivo e mais atual.

A honra

Eu creio que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que se sente por ser jovem comunista. Essa honra que o leva a mostrar-se a toda gente na sua condição de ser comunista, que não o submete à clandestinidade, que o não reduz a fórmulas, mas que ele manifesta em cada momento que lhe sai do espírito, que tem interesse porque é o símbolo de seu orgulho.
Junta-se a isso um grande sentido do dever para com a sociedade que estamos construindo, para com os nossos semelhantes como seres humanos e para com todos os homens do mundo.
Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Paralelamente, uma grande sensibilidade a todos os problemas e uma grande sensibilidade em relação à justiça.” – Che Guevara.