Capturado em vida, EUA ordenaram execução sumária de Che Guevara. Cadáver do líder latino-americano desapareceu durante 30 anos. Até morto, ele representava um perigo para as classes dominantes
Depois de ter sido, ao lado de Fidel, Camilo e Raul, um dos
principais comandantes da Revolução Cubana, de ter assumido o Ministério
da Indústria e o Banco Central de Cuba, de ter organizado a guerrilha
na África, determinado a impulsionar a Revolução na América Latina e
construir um mundo novo, no dia 5 de março de 1967, Che Guevara e o
primeiro grupo de 44 guerrilheiros chegaram à Bolívia, numa fazenda
cedida por Roberto Peredo, integrante do Partido Comunista Boliviano
(apoio pessoal, pois o Partido nunca se comprometeu com a guerrilha).
Falhas cometidas por alguns guerrilheiros e a delação feita por dois
desertores deram ao Exército a certeza de que havia um grupo armado na
região e sua localização. Preparam o primeiro ataque, que acontece no
dia 23 de março, mas a guerrilha já os esperava e, numa emboscada,
derrota o Exército sem sofrer baixas. A segunda batalha também é
positiva para os rebeldes, tendo ocorrido a 10 de abril.
A seguir, há uma dispersão de forças e tudo transcorre sem maiores
novidades até 31 de agosto, quando a traição de Honorato Rojas, camponês
que apoiava a guerrilha, proporcionou a emboscada de Vale Del Ieso,
quando foi dizimada toda a retaguarda. A essa altura, o exército
aprendera com os erros cometidos nas investidas anteriores e com o
treinamento de três meses efetuado por enviados do Governo dos EUA: um
coronel, quatro capitães e 12 sargentos.
O cerco vai se fechando e, no dia 8 de outubro,
Pedro Pena, um camponês interessado em receber a recompensa de US$
4.200, delata a presença de 17 guerrilheiros (é a vanguarda, comandada
por Che). Eles são cercados por 70 homens e há 1.500 nos arredores bem
armados e alimentados, enquanto os guerrilheiros estão famintos,
maltrapilhos, com fome e sede.
O combate encarniçado começa em torno do meio dia.
Às 15h, Che é atingido na perna, sua arma inutilizada; Willy (Simon
Cuba) tira-o da linha de fogo. Os dois são detidos: Che, com ferimento
leve; Simon Cuba, ileso. Levados para o povoado de La Higuera, são
custodiados numa escola, cada um numa sala. No dia seguinte, o
presidente da Bolívia, René Barrientos, após consultar seus patrões, o
Governo dos Estados Unidos, autoriza a execução sumária de ambos e de
qualquer prisioneiro da guerrilha, temendo uma mobilização internacional
por sua liberdade e que o julgamento fosse transformado em tribuna,
como Fidel o fizera em Cuba. Assim, no dia 9 de outubro, às 12h50, Che e
Simon são executados à queima roupa.
No dia 11, desapareceu o cadáver de Che. Até morto, ele representava
um perigo para as classes dominantes. Só foi encontrado em 1997, após 19
meses de buscas iniciadas desde que o general Mário Vargas Salinas, um
dos que comandaram as tropas contra a guerrilha, revelou que o tinham
enterrado em Vallegrande (área da luta). Os restos mortais foram
trasladados para Cuba, onde, recebido com honras de herói nacional
repousa em Santa Clara.
Brilhando pelo mundo inteiro
Mas, apesar de sua morte, a cada ano que passa, a cada nova geração,
aumenta o número dos admiradores e seguidores de Che Guevara em todo o
mundo. E não são apenas os comunistas e revolucionários. Os moradores de
La Higuera o veneram como San Ernesto. Milhares de jovens nem entendem o
seu pensamento e sua luta, mas têm-no como referência por sua dignidade
e sua coerência, tão raros em nossos dias em que a degradação moral do
capitalismo se espalha por todas as classes sociais. Por que isso? É
Jean Paul Sartre, filósofo francês, quem responde: “Foi o ser humano
mais completo de nossa era. “O braseiro boliviano de Ñancahuazu foi
provisoriamente extinto, mas a sua luz continua a brilhar, a incendiar
por toda a parte novos braseiros, a fazer brotar novas centelhas, a
guiar os povos como uma tocha na noite. Nada poderá apagar essa luz”.
Ao discursar na Praça da Revolução, em Havana, no dia 18 de outubro
de 1967, Fidel Castro assim definiu Ernesto Che Guevara: “Não é fácil
conjugar numa pessoa todas as virtudes que se conjugavam nele. Não é
fácil que uma pessoa de maneira espontânea seja capaz de desenvolver uma
personalidade como a sua. Diria que é desse tipo de homens que é
difícil igualar e praticamente impossível superar. Porém diremos também
que homens como ele são capazes, com seu exemplo, de ajudar que surjam
homens como ele. (…) Muitas coisas ele pensou, desenvolveu e escreveu. E
há algo que deve se dizer num dia como hoje: é que os escritos de Che, o
pensamento político e revolucionário de Che têm um valor permanente no
processo revolucionário cubano e no processo revolucionário da América
Latina”.
Hoje, o nome de Che, suas ideias e seu exemplo, tornaram-se
verdadeiras bandeiras de luta contra as injustiças, contra a opressão do
imperialismo capitalista e pelo socialismo e, a cada dia, o pensamento
de Che torna-se mais vivo e mais atual.
A honra
“Eu creio que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem
comunista é a honra que se sente por ser jovem comunista. Essa honra que
o leva a mostrar-se a toda gente na sua condição de ser comunista, que
não o submete à clandestinidade, que o não reduz a fórmulas, mas que ele
manifesta em cada momento que lhe sai do espírito, que tem interesse
porque é o símbolo de seu orgulho.
Junta-se a isso um grande sentido do dever para com a sociedade
que estamos construindo, para com os nossos semelhantes como seres
humanos e para com todos os homens do mundo.
Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista.
Paralelamente, uma grande sensibilidade a todos os problemas e uma
grande sensibilidade em relação à justiça.” – Che Guevara.
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