Milhares de pessoas prometeram voltar este sábado à rua para o "Maior
Protesto do Brasil", um movimento nacional convocado através das redes
sociais a pretexto da comemoração do Dia da Independência do país. A
polícia foi mobilizada para mais de 130 cidades do país, e autorizada a
usar a força para responder a actos de violência.
Antecipando a mobilização, a
Presidente brasileira, Dilma Rousseff, pronunciou-se na televisão sobre
a indignação popular e o desejo de mudanças, vociferado por milhões em
marchas e protestos desde o mês de Junho. “O povo tem o direito de se
indignar”, considerou. “Infelizmente ainda somos um país com serviços
públicos de baixa qualidade”, admitiu, para logo contrapor que, apesar
do descontentamento, houve uma rápida evolução das condições de vida da
população. “Há igualmente um Brasil de grandes resultados, que não
podemos deixar de enxergar e reconhecer”, sublinhou.
A Presidente
referiu-se à resposta do seu Governo às exigências das manifestações,
enumerando os vários “pactos” que propôs ao Congresso – para a educação,
saúde ou reforma política.
Dilma estimou que a aprovação do
projecto de lei que consagra a canalização de 75% das receitas da
exploração das reservas petrolíferas do pré-sal para o sistema de ensino
será um dos principais legados do seu Governo – “garantindo benefícios à
população brasileira por, no mínimo, 50 anos”, disse. A proposta sofreu
várias alterações no processo legislativo: a ideia inicial era
canalizar 100% dos rendimentos obtidos com o pré-sal para a educação.
Dilma
também defendeu o seu programa “Mais Médicos”, que foi alvo de duras
críticas por parte de organizações brasileiras da saúde, que contestam a
contratação de médicos estrangeiros. “O Brasil tem feito e precisa
fazer mais investimentos em hospitais e equipamentos, porém a falta de
médicos é a queixa mais forte da população pobre”, lembrou a Presidente,
que classificou a decisão do Governo de recorrer a médicos do exterior
para preencher vagas deixadas em aberto por brasileiros como “uma
decisão a favor da saúde”.
“O país tem uma grande dívida com a
saúde pública que tem que ser resgatada o mais rápido possível”,
reconheceu, garantindo que mesmo contra as críticas das entidades
profissionais, “o Mais Médicos está se tornando uma realidade”.
Uma
outra realidade é a da reforma política. Dilma Rousseff considerou que a
proposta de decreto legislativo que foi entregue no Congresso na semana
passada, para a convocação de um plesbicito era “um bom passo”, apesar
de muitas das suas ideias não estarem vertidas no documento.
O
discurso televisivo de Dilma – que foi gravado antes de a Presidente
viajar para a Rússia para participar na cimeira do G20 – motivou a
apresentação de uma queixa à Justiça Eleitoral do PSDB, maior partido da
oposição, por propaganda antecipada. Segundo denunciou à Folha de S. Paulo
o senador Aécio Neves, putativo candidato presidencial dos tucanos, “o
Brasil não tem mais uma Presidente da República, só uma candidata
desesperada por recuperar os índices de popularidade perdidos”.
Para
Aécio, Dilma “ultrapassou todos os limites e desrespeitou o povo
brasileiro ao transformar um espaço institucional da presidência em mero
horário eleitoral”, retomando “práticas que se consideravam banidas da
política brasileira e inimagináveis desde que a população foi às ruas
exigir austeridade e respeito às instituições e à ética”.
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