As Pussy Riot vão coser uniformes militares e dormir em camaratas com mais outras 100 condenadas
Na colónia, as três mulheres vão ter um telefonema por mês e o máximo de nove visitas anuais com bom comportamento.
No
final dos procedimentos judiciais e não havendo perdão da
condenação - que as três membros da banda punk Pussy Riot
sentenciadas a dois anos de prisão já deixaram claro que não vão
pedir -, Nadejda Tolokonnikova, Maria Alekhina e Ekaterina
Samutsevitch serão enviadas para uma colónia penal onde passarão a
viver com homicidas e ladras em camaratas que albergam 100 ou mais
presas, até à libertação, pelo início de 2014.
As três
mulheres foram condenadas sexta-feira por "hooliganismo motivado
por ódio religioso", devido à performance não autorizada que
fizeram em Fevereiro na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo,
apelando à Virgem Maria para afastar Vladimir Putin do poder, a duas
semanas da sua recondução à presidência, e criticando o aval dado
pela Igreja Ortodoxa ao Kremlin.
Os advogados das Pussy Riot
sugeriram que poderão não recorrer dentro das instâncias jurídicas
do país (cujo prazo de recurso termina daqui a uma semana), antes
optando por levar o caso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos,
mantendo a argumentação de que a performance deve ser reconhecida
como um acto de protesto político contra o regime russo.
O
veredicto e a sentença de prisão têm sido veementemente
criticados, dentro e fora da Rússia, e até mesmo no seio do Rússia
Unida, o partido no poder e de Putin. Um dos seus líderes, Andrei
Isaiev, considerou-o "duro" e lembrou que o Presidente pode
ainda tomar uma decisão sobre o caso. Mas as Pussy Riot recusam-se a
fazer uma declaração de culpa do crime em que foram condenadas, o
que torna legalmente impossível que lhes seja dado um perdão
presidencial.
Sinais têm sido dados porém, e mesmo da Igreja
Ortodoxa russa, que apelou às autoridades para mostrarem
"misericórdia" na aplicação da sentença -, gesto lido
como uma tentativa de aplacar a fúria pública -, no sentido de que
poderá haver uma redução ou amenização das penas. Poucos
acreditam ainda assim que as Pussy Riot se livrem de passar algum
tempo numa colónia penal de segurança média, a única estrutura
para as mulheres no sistema presidiário russo.
Direitos
mais alargados
Formadas por uma série de edifícios (para
a administração prisional, as camaratas das detidas e as zonas de
trabalho), estas colónias penais femininas estão rodeadas de muros,
arame farpado e torres de vigia, e localizam-se na maior parte dos
casos muito próximas de pequenas cidades ou vilas.
Não há
qualquer garantia de Nadejda Tolokonnikova, de 22 anos, Maria
Alekhina, de 24, e Ekaterina Samutsevitch, de 30 - as duas primeiras
mães de crianças pequenas, que não vêem desde a sua detenção,
há cinco meses - serem transferidas para colónias na região de
Moscovo, de onde são oriundas. Podem mesmo ser enviadas para
instalações a muitas centenas de quilómetros de distância, para
um qualquer dos 46 campos prisionais femininos da Rússia, vendo os
contactos com os familiares reduzidos por esta circunstância.
A
população prisional feminina russa (59 mil mulheres, do total de
727 mil presos no país, segundo dados do website da Administração
Prisional russa) goza de direitos de visita mais alargados do que os
homens, dada a natureza não excessiva das medidas de segurança. As
mulheres integradas nos regimes normais de detenção podem receber
três visitas por ano de curta duração (até quatro horas) e quatro
de longa duração (até três dias), sendo-lhes nestas permitido que
o encontro decorra em local específico do campo, que não as
camaratas, com os maridos e pais. A visita de não-familiares depende
da autorização expressa da administração prisional.
Este
número de visitas é aumentado em mais duas visitas anuais de longa
duração apenas para as detidas que fazem parte do regime de
detenção ligeiro graças a estarem registadas com comportamento
exemplar dentro da colónia.
O
direito às visitas - assim como o de um telefonema por mês, sem
exceder 15 minutos, e de correio ilimitado - é suspenso quando é
aplicado às detidas o regime rígido, por períodos máximos de três
meses consecutivos, como castigo por uma violação das normas e
regulamentos do campo, como a interdição do consumo de álcool e
drogas, e ainda em casos de recusa em obedecer aos guardas ou
insultos dirigidos a um qualquer funcionário da administração
prisional.Durante estes períodos de penalização acrescida, as
mulheres são transferidas das camaratas para celas solitárias, de
onde só lhes é permitido sair durante uma hora por dia, para
exercício no exterior.Acordar às 6h
para a costura
A rotina diária das
detidas - que envergam uniformes verdes com o nome inscrito ao peito,
e às quais são estritamente proibidas roupas pessoais - começa às
6h. Ao longo do dia são chamadas a formaturas de contagem várias
vezes, no exterior das camaratas, partilhadas por 100 a 120 mulheres,
e das zonas de trabalho. E só quando as temperaturas baixam para lá
dos 30 graus negativos é que as contagens, que duram cerca de meia
hora, são feitas no interior dos edifícios.
As reincidentes
e as que foram condenadas pela primeira vez são mantidas em zonas
separadas nos campos, mas não é feita nenhuma divisão pela
natureza ou gravidade dos crimes. E pode também acontecer, embora
seja muito raro, que reincidentes e condenadas em primeiro crime
tenham em comum as áreas de trabalho.
Apenas cerca de metade
da população prisional feminina russa trabalha nos campos, em
actividades que se resumem praticamente à costura de uniformes dos
guardas prisionais para o exército e forças de segurança agregadas
ao Ministério do Interior, pelo que recebem um salário mensal entre
os 25 e 50 euros. Nas colónias, podem comprar alimentos e produtos
de primeira necessidade, até um valor máximo de 75 euros no regime
de detenção regular, ou sem restrição de valor no regime ligeiro.
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